quinta-feira, 11 de abril de 2024

Quietude


Oh borboleta aurinegra,

o que me dizes?

Estais pronta para o silêncio?

Eu?

Estou com as palmas das mãos abertas ao sol,

plantas dos pés abertas ao solo,

asas da mente abertas ao céu.

Ah!

Também quero silêncio,

mas agora não consigo voar.

Sim, posso arrancar meus pés do chão.

Vamos!

Voa dessa alva e doce flor

que eu me faço alado.

Leva-me contigo,

e em quietude,

eu, tu e o sol nos tornaremos crisálidas.

.


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

 

Vale dos pavões

Paulo Barros (janeiro, 2024)

 

Era inverno,

mas havia sol,

céu azul.

Caminhávamos silenciosamente

por um vale verde.

O silencio era ocasionalmente interrompido

pelo som de minúsculas quedas d´água,

gorjeios de bulbul,

voos de pavões,

bruscos movimentos de búfalos curiosos.

O guia, vestido de branco

e usando um turbante rajasthani,

por vezes quebrava o silêncio

com o som de sua flauta de bambu,

adornada com uma pena de pavão,

tal qual a de Krishna.

Outras vezes, com penetrantes toques

no seu sino tibetano

ou sopros ecoantes na concha que trazia em seu embornal,

estampado com o mantra om shanti.

Aqueles sons e silêncios ecoavam nas montanhas

e nos conduziam à profunda introspecção.

Naquele estado de quietude,

margeávamos um riacho de águas límpidas,

refazendo caminhos,

reconectando-nos à paz,

recomeçando a voar,

dançando com o sol.