Desde criança sou amigo das cigarras, borboletas, gatos,
bem-ti-vis....
Aprendi a usar os meus sentidos com os bichos.
Escutar os sapos, os silêncios, os lapsos, o catavento...
Gostar de cheiros simples: flor de laranjeira, terra, alecrim,
manga, vento...
Enxergar coisas como trilhas de formigas, ninhos de
sabiás,
o quintal e o telhado de cima de uma mangueira.
Degustar árvores, mel, liberdade e tempo.
Sentir cheiro de solidão e de sol,
hortelã e romã,
caju e sanhaçu....
Os bichos exercitaram meus membros para andar, voar e
pensar
com as árvores,
com o céu azul,
com noites de lua, só.
Deram-me a habilidade de rastejar
entre o invisível canto das aves noturnas e dos grilos;
os medos da noite e os encantos da chuva.
Os bichos me adestraram a voar sobre árvores, campos,
rios...
Por isso quis ser livre,
inventei de querer saber do mundo.
Quiçá o melhor aprendizado com eles tenha sido o da
imaginação.
Continuo a imaginar coisas como:
ser feliz,
voar pro sol,
iluminar o mundo de verde e paz,
pintar o dia de amarelo e azul,
e respirar a flor do jasmim,
que ainda mora em mim.